sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Mercado de carbono cai 40% em um mês


Os mercados de carbono continuam em queda livre, mesmo depois de o preço de petróleo alcançar relativa estabilidade, após meses de baixa. O contrato de allowance (negociado entre países europeus) para entrega em dezembro de 2009 caiu mais de 40% em um mês, de 14 para 8.49 euros nesta quinta-feira. E as reduções certificadas de emissões (RCE), resultantes de mecanismos de desenvolvimento limpo (MDLs) feitos por países emergentes como o Brasil, seguiram o mesmo caminho: caíram de 12,45 para 7,61 euros.

Os volumes negociados têm sido muito altos, parecidos com os níveis recordes de outubro/novembro do ano passado, quando o mercado também perdeu em torno de 35% em apenas um mês. "É um claro sinal de que muitas empresas estão se desfazendo de ativos que neste momento de crise não estão sendo considerados essenciais", afirma Maurik Jehee, especialista em créditos de carbono do banco Santander. "Com a demanda por energia caindo, a expectativa é de emissões mais baixas e a necessidade de compensações menores. Vendendo créditos, as empresas conseguem se adequar às novas expectativas e ainda geram caixa."

Para o especialista, as cotações dos créditos de carbono continuam ligadas ao preço do petróleo, mas, cada um com "suas próprias características e dinâmicas". Ele explica que a diferença de comportamento se acentuou, mas destaca que os dois mercados perderam 70% do valor desde o pico, em julho. "Parece que o petróleo se ajustou mais rapidamente à nova realidade da demanda mundial. A Opep está conseguindo mostrar que é capaz de frear a oferta."

No mercado de carbono, no entanto não há nenhum sinal de uma queda de oferta no curto prazo. Ao contrário, os volumes oferecidos continuam altos.

Preço mínimo - Com a queda atual, forte e rápida, voltaram as discussões no mercado sobre a necessidade ou a conveniência de um preço mínimo para o carbono. "Obviamente, o preço deveria ser assegurado por algum mecanismo coordenado pelos países europeus", defende Jehee. Com os preços atuais e sem nenhuma garantia de que não possam cair mais, o risco de uma queda nos investimentos em energia renovável e outras reduções de emissões é evidente, observa.

"Com os preços do petróleo em baixa e a facilidade financeira de compensar emissões, as empresas podem manter o antigo paradigma, sem ter de se preocupar muito com eficiência energética ou energia renovável. Devemos ver os resultados num futuro próximo: assim que a economia voltar a esquentar, o planeta deve esquentar também", prevê.

Jehee advoga ainda a intervenção dos governos no mercado, por meio de compra de allowances e RCEs, não só para sustentar as cotações, mas também para passar a imagem de que a Europa segue firme no propósito de reduzir as emissões de 20% a 30% até 2020. "O mercado não deveria ter um preço mínimo fixo.Mas a Comissão Européia deveria tratar dos créditos de carbono como o Banco Central cuida da sua moeda: com muito carinho. Uma desvalorização brusca não é boa para o funcionamento de nenhum mercado. Seria bom intervir neste momento para sustentá-lo."

O mercado se ajustou à nova realidade e deve ficar neste patamar enquanto os mercados financeiros não se recuperarem. "Agora está na hora de os vendedores de crédito de carbono reconsiderarem as suas posições. O que importa é refazer os seus cálculos e procurar alternativas de financiamentos para os seus projetos", diz Jehee.

Fonte: Terra por Roberto do Nascimento

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