quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Como na escravidão, temos aqui uma questão moral


A semana dos chefes de Estado começa e a sociedade civil conclama que a presença deles seja para um resultado consistente. Essa foi a mensagem central da conferência de imprensa da CAN (Rede de Ação pelo Clima), hoje pela manhã.

Dando início ao encontro, Alden Meyer, da Union of Concerned Scientists, reforçou de certa maneira o aviso dado pela presidente da COP no sábado de que ainda existem muitos pontos a serem resolvidos como metas de mitigação, financiamento de longo prazo e a questão do caráter dos instrumentos - como se manter um trilho específico para Kyoto e adotar um instrumento pós-Kyoto ou fazer a fusão dos documentos em um mesmo texto. “Os negociadores continuarão a trabalhar nas questões mais técnicas, mas agora as decisões centrais estarão nas mãos dos líderes governamentais”, avisou Meyer.

Marcelo Furtado, do Greenpeace Brasil, lembrou o contexto das negociações. “Estamos com mais de 700 dias de negociações desde Bali. O que temos aqui é decepcionante. Temo à nossa frente uma cena de crime.” Segundo Furtado, os negociadores admitem não conseguir chegar a um acordo e por isso se faz ainda mais necessária a presença dos líderes de Estado. “A pergunta é: existe a possibilidade de se vencer as lacunas em questão?”, pergunta Marcelo Furtado. “Os países foram demandados a virem aqui com um número, uma meta, e de vir com dinheiro para a mesa. Mas não foi o que aconteceu até o momento.”



O maior sintoma de revés nessa história tem sido para a CAN a mudança de foco para a questão de financiamento de curto prazo, num desvio da discussão sobre o financiamento de longo prazo. Furtado considera inadmissível os países desenvolvidos recusarem a ajuda proposta de 200 bilhões de dólares por ano aos países em desenvolvimento. “Se a indústria de comida para gatos e cachorros gera por ano 40 bilhões de dólares, como não é possível uma ajuda internacional de 200 bilhões?”

Furtado ressaltou as três principais lacunas das negociações nesse momento: mitigação, questão financeira e liderança política. “Não é hora dos governantes chegarem aqui sem liderança, sem decisões efetivas, com relutância”, contestou. “Há 120 anos, a reação do Brasil para cortar o tráfico escravo foi que isso significaria um problema econômico grande demais para o país naquele momento. O que fez a questão avançar foi um argumento moral. Hoje, temos uma questão muito parecida”, argumentou Marcelo Furtado.

Os representantes da CAN fizeram um último comentário sobre a posição dos países africanos. “Eles estão incomodados com algumas medidas da presidência da COP que parecem unir os dois trilhos em um só (Kyoto e LCA). O que eles defenderam foi manter a bifurcação, caso contrário seria uma manobra favorável aos desenvolvidos”, explicou Meyer. “O problema da iniciativa dos países desenvolvidos de sair da moldura de Kyoto eles indicam que podem deixar um formato conhecido para outro que não se tem idéia o que é. Aí corremos o risco de cair num abismo."

Fonte: Ricardo Barretto - Observatório do Clima, 14/12/2009

COP 15: As tempestades de Copenhague

Eventos extremos, como as chuvas dramáticas, não estão acontecendo apenas em São Paulo, no Sul e em outras partes do País. Outros tipos de tempestade estão acontecendo também em Copenhague, na reunião da Convenção do Clima – de onde estas linhas estão sendo escritas na quinta-feira. Elas acontecem até mesmo nas negociações para um acordo que possa levar todos os países a reduzir suas emissões de gases que contribuem para o aquecimento da Terra e a intensificação das mudanças climáticas.



A primeira tempestade maior aqui aconteceu com o vazamento, pelo jornal The Guardian, do texto de um documento confidencial submetido pelo governo da Noruega a uns 15 países, entre eles Estados Unidos, China, Brasil, Índia e vários europeus, com propostas muito polêmicas:

* Criar um grupo intermediário entre países industrializados e subdesenvolvidos, para China, Brasil, Índia e outros “emergentes” (o que quebraria a unidade do G-77);

* exigências maiores de redução de emissões pelos subdesenvolvidos, mas sem criar obrigações maiores de financiamento para os países mais ricos;

* nenhuma proposta de um acordo obrigatório, como o de Kyoto, para o período após 2012, quando termina a vigência da fase atual.

O documento confidencial foi recolhido pela Dinamarca, diante das dissensões, mas a tempestade inevitável foi forte e obrigou a muitas explicações e tomadas de posição, inclusive do Brasil, que discordou das propostas.

A segunda tempestade veio dois dias depois, com uma proposta do país-ilha Tuvalu (um dos mais de 30 ameaçados de desaparecer com a elevação do nível dos oceanos), apoiada por várias nações africanas e outros países-ilhas, que exigem a aprovação, aqui, de um documento vinculante, obrigatório para todos os países e mais duro que o Protocolo de Kyoto. E isso é praticamente impossível, não apenas por causa de discordâncias de muitos países, mas também porque os Estados Unidos não poderiam assiná-lo em Copenhague, já que nem a proposta do presidente Barack Obama para a área do clima foi ainda aprovada pelo Senado – o que é indispensável. Estabelecida a discórdia, as negociações tiveram de ser suspensas no plenário mais amplo. E só continuam nos vários grupos de trabalho (implementação, cooperação a longo prazo, assessoramento técnico e científico, novas metas para os países industrializados, etc.). Mas a suspensão ameaça o resultado final da convenção, porque um acordo teria de ser alcançado até o começo da próxima semana, para ser submetido aos chefes de Estado que chegarão. E nas convenções da ONU qualquer decisão tem obrigatoriamente de ser aprovada por consenso – basta um voto para impedir.

As alternativas são difíceis. A primeira, convocar para o primeiro semestre de 2010 uma prorrogação desta reunião (chamada COP 15), na prática seria quase impossível, por coincidir com a Copa do Mundo de Futebol prevista para a África do Sul, que é um dos países importantes do grupo dos “emergentes”. A segunda, deixar tudo para a COP 16, em dezembro de 2010, no México, certamente provocaria uma enorme decepção aqui e em toda parte, dadas a urgência das questões e as pressões crescentes da sociedade em toda parte. E isso no momento em que até representantes de ONGs em Copenhague (há milhares de todo o mundo na COP15) se mostram cautelosos nas palavras, preocupados com não serem acusados de estar acentuando o pessimismo num momento crucial. E tudo isso sem falar ainda em condições apresentadas por vários países, como a norte-americana de não aceitar outro protocolo como o de Kyoto ou homologar o atual – além de não aceitarem financiar a China.

O Brasil tem aproveitado a enorme afluência de pessoas na reunião para ganhar apoio para programas de bioenergias, fundo amazônico gerido pelo BNDES ou o fundo REDD (com doações de outros países para projetos que evitem desmatamento). Da mesma forma, tem capitalizado a boa repercussão de suas metas voluntárias para redução de emissões. Mas sua delegação está muito preocupada, inquieta, com o impasse mais amplo nas negociações, que pode dificultar tudo.

Os impasses trazem de volta discussões antigas, sobre formas de superar problemas como a exigência de consenso para decisões. Mas as alternativas já foram discutidas em outras COPs, como a de criar uma organização mundial só para o meio ambiente, separada da ONU. Só que ela enfrentaria problemas semelhantes: como ter regras universais sem a concordância de todos os países? E a urgência de decisões é implacável. Ainda há poucos dias a Organização Meteorológica Mundial advertiu que esta primeira década do século 21 está sendo e será a mais quente desde 1850, com temperatura média superior à da década de 1990, que já fora mais quente que a de 1980. Há uma corrida contra o tempo, que não está sendo ganha.

Não têm mudado o rumo nem mesmo advertências dramáticas, como as do ex-secretário-geral da ONU Kofi Anan, mais de uma vez citado neste espaço: hoje, a maior ameaça global não está no terrorismo, como parece; está nas mudanças climáticas e nos padrões de consumo vigentes, já além da capacidade de reposição do planeta; essas questões é que ameaçam “a sobrevivência da espécie humana”. Palavras que, na boca de um diplomata experiente e competente, não podem ser postas de lado. Quem está vivendo os dramas do clima em São Paulo ou no Rio Grande do Sul sabe disso. Quem conhece os diagnósticos para o Brasil, feitos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – para a hipótese de as emissões globais continuarem crescendo -, também teme o que possa acontecer sem novas regras.

Fonte: O Estado de S.Paulo - artigo de Washington Novaes.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Fome de ar, água e comida



Os donos do mundo e seus sábios reunidos em Copenhague ainda não se entenderam sobre como salvar o planeta. A COP15 já funcionou, porém, como uma martelada na cabeça dos líderes, alertando-os para a superlotação da Terra e a dramática escassez de recursos naturais

Antes que você acabe de ler esta frase, terão nascido no mundo quarenta bebês, enquanto vinte de nós terão deixado o plano material para prestar contas a Deus. O saldo é a chegada, a cada dez segundos, de vinte novos moradores da Terra, prontos para crescer, estudar, trabalhar, namorar, casar e ter filhos. Há dez anos, em 1999, o planeta estava na confortável situação de receber cada novo morador com comida e água na quantidade necessária para que ele conseguisse atingir seus sublimes objetivos na vida. De lá para cá, começou a se delinear um novo e desafiador cenário para a espécie humana. A demanda por comida e outros bens naturais passou a crescer mais rapidamente do que a oferta, como mostram as curvas desenhadas no globo da página anterior. Elas não foram parar ali por acaso. Aquele globo esverdeado e translúcido é, até agora, a imagem que melhor identifica a COP15, a reunião de representantes de 192 países que tem lugar em Copenhague, na Dinamarca. Esses senhores e seus assessores científicos têm como missão chegar a um acordo mundial para conter o ritmo do aquecimento global. Esse fenômeno é normalmente benéfico, mas saiu de controle, aparentemente como resultado da atividade industrial humana, e agora pode desarranjar o clima da Terra a ponto de ameaçar a sobrevivência de inúmeras espécies e impor um modo de vida mais áspero e severo à própria humanidade.

A COP15 acaba no fim da próxima semana, e seu encerramento está sendo esperado com tal ansiedade que muitos nem sequer cogitam, por assustadora, a possibilidade de um fracasso. Talvez se deva começar a pensar com mais realismo nessa possibilidade. Por razões metodológicas e ideológicas, e também para não ampliar em demasia a pauta das discussões, dificultando ainda mais um acordo final, a questão populacional está em plano secundaríssimo em Copenhague. É estranho que ela tenha sumido dos debates sobre as soluções do aquecimento global, quando se sabe que esteve na base do seu diagnóstico desde o primeiro momento em que o aquecimento global foi visto como um perigo potencial. Quando o físico sueco Svante Arrhenius concluiu seus cálculos pioneiros sobre o efeito das moléculas de gás carbônico (CO2) no aumento da temperatura média do planeta, em 1896, a Terra era habitada por cerca de 1 bilhão de pessoas. Arrhenius foi o primeiro a perceber que o aumento na concentração de CO2 poderia aquecer demais o planeta. Pouco mais de um século depois do trabalho do sueco, a Terra tem 6,8 bilhões de habitantes e caminha para os 9,2 bilhões por volta de 2050. Serão 2,5 bilhões de pessoas a mais, e, graças ao sucesso da globalização econômica, a maioria delas atingirá um padrão de consumo de classe média. Isso tem um peso extraordinário não apenas na equação do aquecimento global, mas no frágil equilíbrio que a civilização ainda consegue manter em suas relações de rapina com o mundo natural. É enorme o impacto da explosão populacional aliado à emergência social e econômica de imensas massas humanas antes fadadas à miséria. Seus efeitos já se fazem sentir no aumento da demanda de alimentos em ritmo superior ao da oferta, como mostram as curvas do gráfico sobreposto ao globo-símbolo da COP15 nas páginas de abertura desta reportagem.

Vivo estivesse, o sueco Svante Arrhenius enfatizaria em Copenhague o fator populacional no descontrole aparente em que se encontra o efeito estufa global. A cada dia que passa, o mundo tem de sustentar 213 000 pessoas a mais. Cada ser humano adulto produz, em média, 4,3 toneladas de gás carbônico por ano sem fazer nada de mais - apenas ao acender uma lâmpada, andar de carro ou ônibus, alimentar-se e vestir-se. Esses novos passageiros da espaçonave Terra, em conjunto, passarão a responder, então, por 880 000 toneladas a mais de carbono arremessado na atmosfera. As estimativas de aumento de emissões de gases de efeito estufa contemplam o choque populacional. O documento final do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU diz com clareza que "o crescimento do produto interno bruto per capita e o da população foram os principais determinantes do aumento das emissões globais durante as últimas três décadas do século XX". Outro relatório divulgado há menos de um mês pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) chama a atenção para o equívoco de desprezar o aumento populacional no debate sobre o aquecimento: "Os gases de efeito estufa não estariam se acumulando de modo tão perigoso se o número de habitantes da Terra não aumentasse tão rapidamente, mas permanecesse em 300 milhões de pessoas, a população mundial de 1 000 anos atrás". O intrigante é que, nas ações propostas para os próximos anos, o fator aumento da população desaparece.

O tema é realmente explosivo e tem conotações sombrias, por erros cometidos no passado. Com razão ou não, muitas pessoas encaram qualquer sugestão para conter o ritmo de aumento populacional como uma interferência indevida de forças estranhas no livre-arbítrio de países, famílias e das próprias mães. Razões culturais e socioeconômicas contribuem para tirar qualquer efeito prático das assombrosas constatações do crescimento populacional desenfreado. São dois os motivos principais para isso. O primeiro é que existe uma inegável disparidade no volume de emissões individuais quando se comparam cidadãos de países ricos e pobres. Um americano joga, em média, 19 toneladas de gás carbônico na atmosfera anualmente. Um afegão morador das montanhas de seu belo país contribui com modestíssimos 26 quilos de CO2. Como exigir do montanhês afegão que - quando não foi recrutado pelo Talibã para plantar papoula, matéria-prima do ópio - vive do leite de suas cabras e da hortinha no quintal que refreie seus impulsos reprodutivos usando como argumento o peso que o pobre coitado está colocando sobre o planeta? É ridículo. A maior força moral está em convencer o bem-educado e bem nutrido americano médio a repensar seu modo de vida, optando por uma sobrevivência mais frugal. Vale dizer que, embora as conversões ao naturalismo e à alimentação orgânica se contem aos milhares todos os meses nos Estados Unidos, elas são insignificantes do ponto de vista global.

A segunda razão do encalacramento da questão populacional vem da noção, bastante razoável, diga-se, de que os avanços educacionais e os saltos tecnológicos são muito mais eficientes nesse caso do que qualquer política governamental. O dinamarquês Bjorn Lomborg, estrela no grupo dos cientistas céticos quanto aos efeitos do aquecimento global e à responsabilidade humana nele, está entre os que acreditam que a solução virá do avanço tecnológico. Disse Lomborg a VEJA: "Realmente o tema não é tratado aqui. Pela ordem, eu diria que conter o consumo é um pouco mais prioritário, mas, definitivamente, apressar a busca por novas tecnologias limpas é o mais importante de tudo". O economista carioca Sérgio Besserman, ex-presidente do IBGE, que participa da COP15, descrê de qualquer política centralizada que vise a determinar ou influenciar os casais a respeito do número de filhos que devem ter. Ele lembra que a elevação do padrão cultural e educacional da população sempre coincide com a diminuição da taxa de fecundidade. "Quan-do se torna mais amplo o acesso à educação, à cultura e ao conhecimento, as populações passam a crescer em ritmo menor e até a decrescer", diz.

O caso brasileiro é ilustrativo dessa constatação. Há trinta anos, as mulheres brasileiras apre-sentavam taxas de fecundidade que se contavam entre as maiores do mundo, rivalizando com os padrões africanos. No começo da década de 90, a situação apresentava melhoras, mas ainda era preocupante. As mulheres do Brasil rural tinham então, em média, 4,3 filhos - dois a mais do que as mães urbanas. Uma década mais tarde, a diferença entre o número de filhos de mães rurais e urbanas se reduziu para 1,2. Em 2006, a taxa geral de fecundidade no Brasil havia estacionado em dois filhos por mulher. Um avanço cujo progresso só pode ser explicado pelos fatores apontados por Besserman, uma vez que as campanhas de controle de natalidade há muito foram desativadas no Brasil.

Fenômeno semelhante deve ocorrer na Ásia e na África com as melhorias educacionais e com o aumento da proporção da população urbana em relação à rural. Viver em cidades é um grande fator de diminuição do número de filhos. A ONU calcula que o somatório desses fatores terminará por estabilizar a população do planeta na casa dos 9 bilhões a partir do ano 2050. A questão é como chegar até lá sem grandes traumas. O prognóstico não é bom. Estudos científicos mostram que o mundo natural está sendo testado em seu limite para sustentar os atuais 6,8 bilhões de passageiros da espaçonave Terra. Segundo o OPT, organização inglesa que desenvolveu um indicador confiável de sustentabilidade, nos níveis tecnológicos atuais, o máximo que o planeta comporta sem risco de exaustão são 5,1 bilhões de pessoas. No fim da próxima semana, de Copenhague, virá a sinalização se a humanidade captou o dramático pedido de socorro que a Terra está emitindo.

Fonte: Veja.online - Ronaldo França, de Copenhague

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Marina Silva teme que interesses econômicos prejudiquem planos contra o desmatamento



Reduzir Normal Aumentar Imprimir A ex-ministra do Meio Ambiente e pré-candidata à Presidência pelo Partido Verde (PV), Marina Silva, demonstrou nesta segunda-feira o "temor" que os interesses econômicos prevaleçam ao aplicar na região amazônica os planos contra o desmatamento.
As iniciativas de Redução de Emissões para o Desmatamento e Degradação (REDD) das Nações Unidas devem ser estruturadas em torno de um plano nacional que depois será dividido em cada estado, atendendo as suas especificidades, defendeu Marina, que advertiu contra uma "guerra fiscal" entre estes.

"Temo que prevaleça os interesses puramente econômicos. O REDD é uma ferramenta e também uma oportunidade econômica, mas principalmente deve ajudar à mudança do modelo de desenvolvimento para a redução de emissões de CO2", disse Silva após participar de uma mesa-redonda na cúpula climática mundial de Copenhague.

Marina defendeu que as povoações afetadas sejam beneficiárias de mecanismos de desenvolvimento limpo e de um sistema misto de financiamento que combine doações de fundos com créditos a países comprometidos com uma redução mínima de emissões de 30% em seu próprio território.

A ex-ministra se opôs às declarações de alguns líderes mundiais rebaixando as expectativas do resultado da cúpula e falou sobre a importância de conquistar um compromisso "à altura dos esforços que devem ser feitos pelo bem do planeta", deixando de lado os interesses específicos de cada país.

Marina ressaltou que ela é mais um membro da delegação brasileira em Copenhague e que espera contribuir da mesma forma "efetiva" que o resto para tentar alcançar um acordo na capital dinamarquesa.

COP-15
A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, de 7 a 18 de dezembro, que abrange 192 países, vai se reunir em Copenhague, na Dinamarca, para a 15ª Conferência das Partes sobre o Clima, a COP-15. O objetivo é traçar um acordo global para definir o que será feito para reduzir as emissões de gases de efeito estufa após 2012, quando termina o primeiro período de compromisso do Protocolo de Kyoto.

Fonte: Terra.com.br

EUA dizem que não haverá acordo climático sem emergentes


Negociador americano pede que países em desenvolvimento assumam 'papel-chave' na questão do financiamento

COPENHAGUE - O chefe da delegação dos Estados Unidos na Cúpula da ONU sobre a Mudança Climática (COP15), Todd Stern, afirmou nesta sexta-feira, 11, em Copenhague que não haverá um acordo neste fórum sobre a redução das emissões sem a inclusão dos países em desenvolvimento.

Em entrevista coletiva, Stern disse que esses países "deverão assumir um papel-chave" para resolver a questão do financiamento para atenuar os efeitos das emissões de dióxido de carbono (CO2) nas nações pobres.

O diplomata americano fazia uma alusão à China, que nesta sexta-feira, por meio de seu vice-ministro de Assuntos Exteriores, He Yatei, lembrava "a obrigação legal" do mundo industrializado de reparar os danos causados às nações em desenvolvimento pelas emissões.

Stern reiterou a oferta inicial feita por Washington de cortar suas emissões em 17% até 2020 frente aos valores de 2005 e destacou as dificuldades que a aprovação de um acordo assinado em Copenhague pode enfrentar no Senado dos EUA.

Diversos países emergentes, entre eles a China, criticaram duramente esta proposta por considerar que representa apenas uma redução real de 4% na comparação com outros países industrializados, que partem de 1990 para calcular sua poluição.

O chefe da delegação americana em Copenhague ainda afirmou que "se deverá combinar a ciência com o pragmatismo para conseguir o possível" na COP-15.

Fonte: O Estado de S. Paulo (portal) – 11/12/2009

Esboço cita corte de 15% a 30% de CO2 para país em desenvolvimento

Texto ressalva que 'plano de ação' é condicionado à ajuda dos países ricos.
'Desvio substancial' das emissões deve ser obtido até 2020.

O primeiro rascunho oficial de acordo a ser fechado pelas 193 nações representadas na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP 15, diz que os países em desenvolvimento devem tomar ações de mitigação apoiadas pelos países ricos para atingir uma redução "substancial" das emissões - entre 15% e 30% até 2020 em relação ao que emitiriam se nada fosse feito. Mas o texto reconhece que a redução nestes países "depende do nível de apoio disponível".

Caso esse dispositivo sobreviva aos debates e polêmicas e seja finalmente aprovado na conclusão da Conferência de Copenhague, o "compromisso voluntário" do Brasil vai se confirmar de fato ambicioso.

A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, anunciou no dia 13 de novembro que o Brasil se compromete voluntariamente a reduzir as emissões nacionais de gases causadores do efeito estufa em 36,1% a 38,9% até 2020 em relação ao que poluiria se nada fosse feito. (Calculada a tendência de emissão de dióxido de carbono e outros similares na próxima década, o Brasil vai tentar contê-la, adotando ações para que o tamanho do estrago ambiental fique menor do que seria se o governo não fizesse nada.)

O rascunho segue as recomendações publicadas há dois anos pelo Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC, na sigla em inglês) e insiste em que os países industrializados cortem suas emissões de gases causadores do efeito estufa em 25% a 40% até 2020, na comparação com 1990. Até 2050, a meta seria cortar as emissões em 50%.

O objetivo dos cortes é conter a alta da temperatura neste século em até 2°C. Em um gesto para agradar aos pequenos países-ilha, para os quais até mesmo esse teto já seria perigoso demais, o texto, diplomaticamente, afirma que é preciso limitar o aumento da temperatura entre "1,5°C e 2°C".

O financiamento das ações contra emissões nos países pobres é um dos pontos mais polêmicos da COP 15.

O texto explicita que a principal fonte de financiamento devem ser "recursos novos e adicionais oferecidos pelos países desenvolvidos", mas não cita valores.

Está previsto ainda no rascunho a criação de um mecanismo para transferência de tecnologias de redução de emissões e adaptação às mudanças climáticas entre os países.

O texto inclui o que foi negociado até o momento para posteriores trabalhos dos países participantes, disse na véspera o negociador-chefe do Brasil, embaixador Luiz Alberto Figueiredo.

Segundo ele, o objetivo é que seja "um texto que possa contar com o máximo possível de equilíbrio, de modo que as partes se sintam representadas e confortáveis em trabalhar sobre ele".

Fonte: G1 (portal) – 11/12/2009

Dinheiro do clima

Um espectro ronda Copenhague: o dinheiro. Há discussões filosóficas, geopolíticas, científicas, ambientais mas tudo pega mesmo é na hora de discutir o financiamento. Dinheiro já oferecido some da mesa, moeda fácil é oferecida por milagreiros, e os lobbies correm atrás de miragens monetárias. No fundo, o que se discute aqui é quanto os poluidores pagarão e quem vai receber.

Alta, louríssima, voz forte, a jornalista da TV dinamarquesa cortou a fala diplomática do embaixador brasileiro Luiz Alberto Figueiredo Machado e pediu explicação sobre o adjetivo “robusto” que ele usou para qualificar a necessidade de financiamento dos países em desenvolvimento:

— O que é dinheiro “robusto”?
— São recursos de curto e longo prazo. Precisamos de dinheiro de curto prazo? Sim. Mas também precisamos de financiamento de longo prazo porque a luta contra a mudança climática é longa.
— Quanto? — insistiu a repórter.
Não recebeu a resposta quantitativa que queria. O que o embaixador havia dito, à imprensa, um pouco antes, era o recado que todos os países em desenvolvimento estão dizendo:
— No momento, não há nenhuma proposta de dinheiro na mesa e essa é a nossa preocupação.

O problema é que está tudo andando para trás. O negociador americano Todd Stern chegou aqui rejeitando a ideia de que há uma “responsabilidade histórica” dos países ricos na mudança climática. Isso derruba um dos pilares de toda essa negociação.

No começo do dia, ontem, George Soros apareceu prometendo solução fácil. Numa sala lotada de um evento paralelo, Soros explicou sua ideia: um fundo verde, de US$ 100 bilhões com Direitos Especiais de Saque do FMI para financiar proteção de florestas e países mais vulneráveis. Com uma proposta assim, ele agradou de Brasil a Bangladesh. Argumentou que o Fundo usou US$ 283 bilhões em DES para financiar países ricos na crise econômica.

A reação de descrédito também foi ampla. Paulo Adário, do Greenpeace, argumentou que isso pode tirar dos países ricos a obrigação de pagar pelo dano que fizeram. Os negociadores europeus rejeitaram a ideia de Soros:

— Nós desconfiamos muito de propostas assim. Dinheiro tem que vir de algum lugar, não se pode simplesmente imprimi-lo — disse Arthur Runge-Metzer, negociador-chefe da União Europeia.
Uma fonte do FMI informa que a ideia é inviável. Os países teriam que sacar dinheiro dos DES e para isso teriam que pagar juros. Se os países ricos estivessem dispostos a fazer isso, usariam seu próprio dinheiro.

Nas últimas horas, os diplomatas trabalharam na preparação da primeira versão do texto oficial do grupo de trabalho criado para isso na Conferência do Clima das Nações Unidas (COP-15). Um órgão poderoso que tem um nome inacreditável: AWG-LCA. O embaixador Luiz Alberto Figueiredo Machado é o vice-presidente. O presidente é Michael Jammit Cutajar, embaixador de Malta. A promessa é que o texto vai ser distribuído amanhã para as delegações. Ficaria pronto ontem, mas as negociações estão difíceis e um dos pontos é o de financiamento.

Os europeus tinham anunciado, tempos atrás, US$ 100 bilhões, mas para financiar “adaptação”. Essa palavra indica que o dinheiro vai para os países mais pobres e vulneráveis. Se for usada a palavra “mitigação”, pode ser para proteção à floresta, e aí entra o Brasil. Até agora, o que está realmente oferecido pelos Estados Unidos e Europa é um dinheiro de curto prazo, de US$ 10 bilhões.

A corrida ao tesouro trouxe aqui para Copenhague muitas ONGs, defensores de diferentes mecanismos de financiamento, empresas de diversos setores, inclusive os de alta emissão, produtores de equipamentos para diversas tecnologias de produção de energia. Os ricos pararam de oferecer o que vinham oferecendo antes. Falam da crise e de como os países emergentes se saíram tão bem, e usam um argumento difícil de refutar: a China é parte dos emergentes, mas tem US$ 2 trilhões de reservas.

O Brasil pode construir um discurso sustentável para seu pedido de recursos, mas para isso tem um enorme trabalho a fazer. Financiar a pecuária sem fazer exigências, mesmo sabendo o que o Inpe divulgou ontem, que metade das emissões brasileiras vem da produção de carne, é insustentável. Ou a pecuária muda, ou o Brasil fica sem argumento.

Enquanto essas negociações ocorrem, as sessões plenárias da Conferência terminam sempre suspensas por causa de Tuvalu. Ontem, de novo, o pequeno arquipélago parou a reunião e pode ficar assim até sábado. Ela está em obstrução, pegando uma boa questão regimental. Fez uma proposta há seis meses, e propostas nesse prazo têm que ser analisadas.

Num plenário conflagrado, com suas divisões inesperadas, Connie Heddegaard, a presidente da Conferência, deu a palavra para uma representante da sociedade civil. Uma jovem negra, africana, traz todos de volta à realidade:

— Os países ricos, que já tiraram trilhões de nós, agora oferecem US$ 10 bilhões. Esse dinheiro não dá para pagar os nossos caixões.

Quando falam os muito pobres ou os afogados, como Tuvalu, tudo fica mais cheio de vida, mais emocionante. Até um frio debate sobre dinheiro.

Fonte:O Globo – 11/12/2009 - Miriam Leitão

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Cúpula do clima terá 1,2 mil limusines e 140 jatos particulares


Pouca gente discorda que é nobre a causa por trás da Cúpula do Clima de Copenhague, que começou nesta segunda (07) e acontece até o dia 18 de dezembro na capital dinamarquesa. Afinal, reduzir a emissão de poluentes e, assim, diminuir os efeitos do aquecimento global é apontado por muitos como a única forma de salvar o planeta.

Mas, ao que parece, tem muita gente preocupada com o meio ambiente apenas no discurso. De acordo com o jornal inglês Telegraph, os mais de 30 mil participantes da cúpula vão produzir cerca de 41 mil toneladas de CO2 durante os 11 dias de duração do evento. É o equivalente à produção de uma cidade de 140 mil habitantes.

Parte desses poluentes serão emitidos nas viagens dos participantes para Copenhague. Estima-se que 140 jatos particulares pousarão no aeroporto da cidade durante o período. O número é tão grande que não haverá lugar para eles estacionarem. Muitos terão de seguir para outros aeroportos da região e só voltar à Dinamarca para buscar seus passageiros VIP.

As limusines que vão circular pelas ruas da capital dinamarquesa também são apontadas como vilãs do meio ambiente. De acordo com o jornal inglês, mais de 1,2 mil delas vão transportar os participantes. Apenas 5 dessas limusines são híbridas - ou seja, têm dois motores, um elétrico e um a combustão, o que ajuda a reduzir as emissões.

O jornal inglês lembra ainda que muitos dos mais de 30 mil participantes da cúpula não têm muito a fazer na cidade. Entre os convidados estão os atores Leonardo DiCaprio, Daryl Hannah, a modelo Helena Chritensen etc.


COP-15
A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, de 7 a 18 de dezembro, que abrange 192 países, vai se reunir em Copenhague, na Dinamarca, para a 15ª Conferência das Partes sobre o Clima, a COP-15. O objetivo é traçar um acordo global para definir o que será feito para reduzir as emissões de gases de efeito estufa após 2012, quando termina o primeiro período de compromisso do Protocolo de Kyoto

Minc diz que reunião de Copenhague não será um fracasso

Reduzir Normal Aumentar Imprimir O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, garantiu que a reunião mundial sobre mudanças climáticas, iniciada nesta segunda-feira em Copenhague, "não será um fracasso" graças a compromissos já anunciados por vários países que tiveram o Brasil como impulso.

De acordo com o ministro, o anúncio feito pelo Brasil de que buscará reduzir suas emissões de gases-estufa em até 38,9% até 2020 fez com que outros países apresentassem números. Minc acredita que a posição brasileira também provocou a China e os Estados Unidos, os dois maiores emissores do mundo, a abandonarem a posição de "abraço dos afogados". "No sentido de submergirem o mundo no derretimento das geleiras", disse. "Mesmo que não se chegue a um acordo sobre tudo, e não vai se chegar a um acordo sobre tudo, uma base sólida será feita", avaliou o ministro.

Segundo Minc, o que já está sobre a mesa não será tirado. O ministro falou a jornalistas durante evento da Abras, associação que representa o setor de supermercados, no qual foi assinado um acordo em que os varejistas se comprometem a não adquirir carne oriunda de áreas desmatadas. "Copenhague vai sair certamente com um acordo assinado", apostou.

Um acordo global para reduzir as emissões de gases-estufa, apontados como responsáveis pelas mudanças climáticas, tem esbarrado em questões como a divisão das reduções de emissões entre países ricos e em desenvolvimento e o financiamento para que países pobres consigam lidar com as mudanças do clima.

Minc, que viajará para a capital dinamarquesa na sexta-feira, disse que a meta brasileira representa uma redução de aproximadamente 1 bilhão de toneladas de carbono, o mesmo que recuar as emissões brasileiras a níveis similares aos de dez anos atrás.

O ministro estimou ainda que, para cumprir essas metas, serão necessários 10 bilhões de reais anuais ao longo de uma década. Minc inclui nessa cifra recursos dos governos federal, estaduais e municipais e da iniciativa privada.

Uma das formas para financiar esse montante é o Fundo Amazônia, criado no ano passado com doação de 1 bilhão de dólares do governo da Noruega. De acordo com Minc, a Alemanha garantiu mais 18 milhões de euros para o fundo, e o governo aproveitará a reunião sobre o clima para tentar obter mais recursos.

"A gente acha que isso pode ser triplicado, quadruplicado", afirmou, ao comentar que o Brasil levará à capital dinamarquesa um estande sobre o Fundo Amazônia em parceria com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.