sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Governo quer dobrar usinas poluentes


No ano em que o mundo terá de entrar em acordo sobre a adoção de metas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, o Brasil apresenta um Plano Decenal de Energia que dobra o parque termelétrico do país e enfatiza as fontes de energia sujas, que colaboram para o aquecimento global.

O plano prevê a criação de 82 usinas termelétricas de 2008 a 2017, com potência total de 15.305 MW. Dessas, 68 serão movidas a combustíveis fósseis. Hoje, há 77 térmicas instaladas, 74 delas de fontes fósseis, que juntas têm potência de 15.444,7 MW. Com o plano, as emissões de gás carbônico das termelétricas subirão 172% --passando de 14,43 milhões de toneladas para 39,3 milhões de toneladas.

Se as emissões de todos os outros setores da economia, como transportes e indústria, permanecessem estáveis nesse período, as emissões das termelétricas passarão de 4,3% do total atual para 12% em 2017.

O plano prevê ainda a criação de 71 hidrelétricas, 11 usinas a menos em relação às térmicas. Porém, o potencial hidrelétrico a ser instalado será bem maior que o do novo parque termelétrico, com 28.938,5 MW.

Na opinião de Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coppe-UFRJ (Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro), o governo está cometendo um "erro grande" ao priorizar as termelétricas. "Entramos na contramão da história e vamos aumentar a emissão de gases-estufa desnecessariamente."

Dois países?

O Ministério de Minas e Energia colocou o plano que prevê a expansão da energia suja em consulta pública na internet (www.mme.gov.br) no dia 24 de dezembro. Duas semanas antes, o Brasil recebia em Poznan, Polônia, elogios internacionais por seu Plano Nacional de Mudanças Climáticas. No documento, o governo assume metas internas de redução do desmatamento e defende a ampliação das energias renováveis.

No final deste ano, deve ser fechado na conferência de Copenhague, na Dinamarca, um acordo entre os países sobre as novas metas de redução das emissões a partir de 2012.

Para a senadora Marina Silva (PT), ex-ministra do Meio Ambiente e colunista da Folha, o Plano Decenal de Energia "é uma contradição". "Se for para o Brasil ir pelo caminho mais fácil, não precisa do plano [de Mudanças Climáticas]."

"Se vai reduzir emissão em função da diminuição do desmatamento você não pode aumentar as emissões por outro lado, senão você não fecha essa conta", disse.

Ela ressaltou que a energia eólica é pouco explorada no Plano Decenal, por exemplo. Hoje, os ventos representam 0,3% da geração total de energia no Brasil e, em 2017, passarão para 0,9%.

Dos 15.305 MW previstos para entrar em operação no horizonte do plano por meio das usinas térmicas, 89,4% são provenientes de combustíveis fósseis. E as usinas a óleo combustível dominarão o cenário a partir de 2010 até o final do período --serão 41 usinas novas.

A maior parte das térmicas, um total de 55, deve ser instalada no Nordeste. A segunda região que mais receberá esse tipo de usinas será o Sudeste, que deve ganhar 20 delas.

Culpa

Segundo Pinguelli Rosa, a população também tem sua parcela de culpa na ampliação das térmicas, ao criticar a construção de hidrelétricas no país. "Mas o governo tem maior responsabilidade. Não pode cometer um erro desses só porque a sociedade se equivoca", disse.

O Ministério de Minas e Energia, procurado na manhã de ontem, não respondeu à Folha até o fechamento desta edição. De acordo com a página do ministério na internet, a consulta pública sobre o Plano Decenal de Energia terminará em 30 de janeiro.

Sérgia Oliveira, do Ministério do Meio Ambiente, não respondeu às questões específicas da reportagem sobre o Plano Decenal de Energia. Ela afirmou que a pasta defende a promoção da energia renovável e que o Ministério de Minas e Energia "tem sido muito aberto" para discutir a questão.


fonte: Folha de S.Paulo

Cientistas defendem o uso de energia eólica no Brasil


Um estudo feito pelo físico Fernando Barros Martins e publicado na "Revista Brasileira de Ensino de Física", na semana passada, afirma que, se todo o potencial eólico brasileiro fosse convertido, seria possível gerar cerca de 272 terawatts/hora (TWh) por ano de energia elétrica.

Isso representa mais da metade do consumo brasileiro, que estava em torno de 424 Twh/ano, de acordo com dados referentes ao ano de 2006.

Atualmente, o Brasil utiliza menos de 1% desta tecnologia. De acordo com o responsável pelo Laboratório de Instrumentação Meteorológica do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), o físico Celso Thomaz, o pouco aproveitamento deste potencial eólico se dá principalmente por dois fatores: o econômico e o cultural.

"O preço do aerogerador ainda é muito alto. Dentro do nosso sistema não compensa trocar de tecnologia. É muito mais barato queimar combustível, ainda que isto esteja comprometendo a sobrevivência do planeta".

O outro fator de entrave, segundo ele, é que o Brasil não tem a cultura de buscar essas fontes alternativas de energia, embora haja observação da mídia e da sociedade em relação ao aquecimento global.

O chefe do Grupo de Energia e Meio Ambiente, doutor em geofísica Ênio Bueno Pereira, acredita que o maior problema não é tanto o financiamento, como a absorção da mão-de-obra.

"Não há reposição de pessoal para manter o conhecimento, embora o Brasil tenha excelentes institutos de pesquisas. Não adianta formar novos cientistas, pesquisadores. O governo tem que fixar, contratar esses cientistas. Precisamos ter uma carreira estável, o conhecimento científico é um bem de valor incomensurável, tem uma latência muito grande", disse Pereira.

"O incentivo que o governo tem oferecido na área de energia renovável ainda é pouco, o governo tem que dar subsídios, como fez com Pro-álcool, que tornou-se referência no mundo todo. Temos que apostar nessas energia renováveis para substituir as fósseis", acrescentou Pereira.

Para o pesquisador da área de energia eólica do Centro de Pesquisa de Energia Elétrica (Cepel) Antônio Leite de Sá a energia eólica só decolou um pouco no nosso país graças ao Programa de Incentivo de Fontes Alternativas da Eletrobrás, (Proinfa). "Agora já vamos ter leilões específicos para energia eólica, e isso vai ajudar ainda mais, vai melhorar muito", afirmou o cientista.

A Alemanha é uma das maiores economias do mundo a incentivar a energia renovável: cerca de 23% da energia que o país utiliza é a eólica."Na Alemanha e em outros países da Europa eles utilizam o medidor bidirecional. Qualquer pessoa, que tenha condições financeiras, pode instalar um gerador ou vários geradores na sua fazenda, por exemplo", acrescentou.

Fonte: Agência Brasil, em Brasília

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Inovação a Favor da Sustentabilidade


Cada vez mais em moda, muitas empresas passaram a investir em ações sociais, mas sem, necessariamente, estarem de acordo com as melhores práticas de responsabilidade social do mercado. Essa proposta está ligada não somente a fatos pontuais, mas à forma de se fazer a gestão de uma empresa. Por conta disso, a Lepri se destaca no segmento em que atua, apresentando uma nova proposta para a fabricação de peças de cerâmica, com a utilização de resíduos de lâmpadas fluorescentes recicladas como matéria prima.

Pioneira, a empresa aposta em produtos ecologicamente corretos há mais de três anos, sem deixar de lado investimentos em design e inovação. Segundo o presidente da empresa, José Lepri, essa proposta vai além das tendências de mercado, é uma maneira de retribuir à natureza uma parte do que ela fornece. "Nossos processos foram redesenhados para que pudéssemos levar aos consumidores produtos de qualidade e ambientalmente responsáveis. Nossas ecopastilhas além de decorarem ajudam a preservar a natureza, incentivando, ainda, que outras organizações apostem na reciclagem das lâmpadas, que contêm elementos nocivos, como o mercúrio".

Entre os benefícios da utilização do material criado a partir da reciclagem das lâmpadas está a diminuição do uso do gás na hora do processo dos produtos. Estudos realizados pela empresa confirmaram uma redução de uso desse combustível fóssil em (até) 15% durante a queima da cerâmica. Outro fato positivo é o recolhimento do mercúrio que as lâmpadas possuem, responsável pela contaminação em alto grau da terra, do ar e da água. "Além de tudo isso, ou seja, dos benefícios gerados em relação à questão da sustentabilidade, temos, hoje, um produto mais resistente e com características únicas em nosso mercado", conclui José.

A Lepri, recentemente, fez parte do projeto do primeiro restaurante verde do McDonald"s, inaugurado em dezembro de 2008, em Bertioga, litoral de São Paulo. Todo o salão externo do local foi decorado pelas ecopastilhas Fendi, nos tamanhos 11x11cm e 11x23cm. Essas que contribuíram para que o estabelecimento pleiteie o certificado do LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), um sistema de classificação de edificações a partir de critérios de sustentabilidade ambiental desenvolvido pelo United States Green Building Council.

Para um produto/empresa receber a certificação do LEED® não basta que seja "verde", é preciso que tenha qualidade, durabilidade e origem conhecida. Além disso, as condições de fabricação e questões como o transporte dos materiais e a distância percorrida pelo produto até a obra são levadas em consideração.

Hoje, a empresa já tem em seu portfólio mais de quatro linhas de produtos ecologicamente corretos. Aquilo que é obtido dos processos de reciclagem é utilizado em diferentes etapas dos processos industriais da empresa, seja na massa das peças ou no esmalte. Vale lembrar que se o material não fosse reciclado a Natureza iria demorar cerca de 200 anos para dar conta de sua degradação

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Geleira peruana desaparece em consequência de aquecimento global



A geleira Quilca, localizada a 5.250 m de altitude na região de Puno, sudeste do Peru, derreteu completamente por causa do aquecimento global, informou o Instituto Nacional de Recursos Naturais (Inrena) peruano. A geleira fica próxima à fronteira com a Bolívia.

"O desaparecimento da geleira Quilca foi gradual, e é consequência das mudanças climáticas e do aquecimento que acontecem em todo o mundo", explicou Marco Zapata, diretor da Unidade de Glaciologia do Inrena. "O aquecimento global repercute de maneira especial nas geleiras do Peru, que estão entre as mais afetadas".

Fotografias divulgadas no domingo pela agência estatal peruana mostram que a neve que cobria a geleira Quilca derreteu por completo, deixando a montanha coberta apenas por uma camada de terra.

É a segunda geleira que desaparece no Peru desde 2005, por motivos atribuídos ao aquecimento global. De acordo com a Inrena, cerca de 150 picos nevados do país correm o risco de perder suas geleiras.

Há 19 cordilheiras nevadas espalhadas pelo território peruano e no sudeste andino.

da France Presse, em Colorado Springs

Aquecimento global pode ser irreversível, mostra estudo

Uma equipe de cientistas especializados em ambiente nos Estados Unidos fez um alerta de que muitos dos efeitos das mudanças climáticas podem ser irreversíveis.

Em artigo publicado na revista "Proceedings of the National Academy of Sciences", os cientistas afirmam que as temperaturas na Terra podem se manter altas por até mil anos, mesmo se as emissões de gás carbônico (CO2) fossem eliminadas hoje.

Segundo os pesquisadores, se o nível de CO2 na atmosfera continuar a subir, vai chover menos em áreas que já são secas no sul da Europa, na América do Norte e em partes da Ásia e da Austrália.

Eles também afirmam que, atualmente, os oceanos estão desacelerando o aquecimento global ao absorver calor, mas que em algum momento vão liberar este calor de volta à atmosfera.

Mudanças nos EUA

A divulgação das conclusões dos ambientalistas coincide com o pedido feito pelo presidente dos EUA, Barack Obama, para que a Agência Americana de Proteção Ambiental reveja as regras de emissão de gás carbônico por veículos de passageiros.

Vários Estados americanos, liderados pela Califórnia, querem introduzir leis para obrigar as montadoras a melhorar drasticamente a eficiência do uso de combustíveis.

A medida encontrou oposição de vários setores, que argumentam que essa decisão poderia derrubar a demanda por novos carros neste período de recessão.

Os cientistas envolvidos na nova pesquisa dizem que políticos precisam agir imediatamente para contrabalançar os danos já provocados ao meio ambiente.

RAJESH MIRCHANDAN
da BBC, em Los Angeles

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

O que esperar de Obama para o Meio Ambiente

A política ambiental não foi a preocupação central durante a campanha eleitoral norte-americana. Após a eleição de Barack Obama, a tragédia financeira, com a especulação elevada à enésima potência e golpes, e a crise econômica tomaram conta dos discursos e propostas nos Estados Unidos e em todo o mundo. Por isso, os reais propósitos do novo presidente ainda se manifestam mais pela plataforma eleitoral do que pelos projetos concretos de governo.

Os assessores de Obama definidos ou indicados para as áreas que representam importante demanda ambiental até o momento são o secretário de Energia, Steven Chu, encarregado de desenvolver tecnologias que reduzam as emissões de carbono das usinas a carvão e tornar viável a captura e armazenamento do principal gás de efeito estufa; Lisa P. Jackson, para a Agência de Proteção Ambiental, que deverá rever ações do governo Bush e regular as emissões de dióxido de carbono (CO2); e Carol Browner, para a coordenação de energia e meio ambiente, que terá como desafio conquistar a liderança para os EUA das discussões internacionais sobre o aquecimento global.

Para Maurik Jehee, especialista em créditos de carbono do ABN Amro Real, incorporado pelo Santander, Obama, apesar da crise financeira e econômica mundial, terá como um dos maiores desafios definir nos próximos 12 meses, até as negociações finais da Conferência das Partes em Copenhague em dezembro, o caminho a ser adotado pelo EUA na questão ambiental.

O novo presidente prometeu a aprovação de um sistema de cap-and-trade nacional (sistema de comercialização que limita o total de emissões). "Após anos de quase negação da administração Bush e a implementação de dois sistemas regionais de um número crescente de Estados, as metas finais parecem ser alinhadas, o que falta é adequar as metas intermediarias às expectativas do resto do mundo. Enquanto a Europa já assumiu uma meta de redução de 20% das emissões até 2020, o plano do Obama fala em voltar às emissões de 1990 até 2020."

Ainda em campanha e antes da revelação do estado crítico das montadoras do país, Obama avisara aos fabricantes de automóveis que sob sua administração iria exigir maior eficiência no consumo de combustíveis para uso veicular. Agora, não se sabe. Ainda como senador, defendeu, com êxito, mais investimentos em energias alternativas. Obama promete ainda desenvolver incentivos para os proprietários de terras e matas, assim como agricultores, que conservarem as matas ou restaurarem áreas degradadas, ou que adotem práticas capazes de capturar carbono.

Programas federais para estimular os trabalhadores a criarem e se adaptarem a processos limpos de produção e de uso eficiente de energia também estão entre os planos. E pretende criar estímulos para as localidades que se anteciparem na implementação de novos códigos de construção que priorizem o uso eficiente da energia. E quer que os novos prédios registrem emissão zero a partir de 2030, mas pretende que os edifícios existentes melhorem sua eficiência em 25% em dez anos.

No plano internacional, Obama diz que vai criar o Fórum Global de Energia, que deve incluir todos os membros do G-8 (grupo dos países industrializados mais a Rússia), além de Brasil, China, Índia, México e África do Sul. Esse grupo de grandes consumidores de energia, industrializados e em desenvolvimento, diz ele, vai se reunir periodicamente para discutir exclusivamente temas relacionados à energia global e questões ambientais. O candidato também ressalta que, na sua visão, o fórum da UNFCC é a instância internacional adequada para abordar a questão climática. Mas nada de assumir metas definidas internacionalmente a partir do Protocolo de Kyoto, ou do acordo que vier a substituí-lo, a partir de 2012.

Fonte: Terra

Os limites do capital são os limites da Terra, por Leonardo Boff

Em 1961 precisávamos de metade da Terra para atender as demandas humanas. Em 1981 empatávamos: precisávamos de um Terra inteira. Em 1995 já ultrapassamos em 10% de sua capacidade de regeneração, mas era ainda suportável. Em 2008 passamos de 40% e a Terra está dando sinais inequívocos de que já não agüenta mais. Se mantivermos o crescimento do PIB mundial entre 2-3% ao ano, em 2050 vamos precisar de duas Terras, o que é impossível. A análise é de Leornado Boff, em seu artigo de estréia como colunista da Carta Maior.

Uma semana após o estouro da bolha econômico-financeira, no dia 23 de setembro, ocorreu o assim chamado Earth Overshoot Day , quer dizer, "o dia da ultrapassagem da Terra". Grandes institutos que acompanham sistematicamente o estado da Terra anunciaram: a partir deste dia o consumo da humanidade ultrapassou em 40% a capacidade de suporte e regeneração do sistema-Terra. Traduzindo: a humanidade está consumindo um planeta inteiro e mais 40% dele que não existe. O resultado é a manifestação insofismável da insustentabilidade global da Terra e do sistema de produção e consumo imperante. Entramos no vermelho e assim não poderemos continuar porque não temos mais fundos para cobrir nossas dívidas ecológicas.

Esta notícia, alarmante e ameaçadora, ganhou apenas algumas linhas na parte internacional dos jornais, ao contrário da outra que até hoje ocupa as manchetes dos meios de comunicação e os principais noticiários de televisão. Lógico, nem poderia ser diferente. O que estrutura as sociedades mundiais, como há muitos anos o analisou Polaniy em seu famoso livro A Grande Transformação, não é nem a política nem a ética e muito menos a ecologia, mas unicamente a economia. Tudo virou mercadoria, inclusive a própria Terra. E a economia submeteu a si a política e mandou para o limbo a ética.

Até hoje somos castigados dia a dia a ler mais e mais relatórios e análises da crise econômico-financeira como se somente ela constituisse a realidade realmente existente. Tudo o mais é secundarizado ou silenciado.

A discussão dominante se restringe a esta questão: que correções importa fazer para salvar o capitalismo e regular os mercados? Assim poderíamos continuar as usual a fazer nossos negócios dentro da lógica própria do capital que é: quanto posso ganhar com o menor investimento possível, no lapso de tempo mais curto e com mais chances de aumentar o meu poder de competição e de acumulação? Tudo isso tem um preço: a delapidação da natureza e o esquecimento da solidariedade generacional para com os que virão depois de nós. Eles precisam também satisfazer suas necessidades e habitar um planeta minimamente saudável. Mas esta não é a preocupação nem o discurso dos principais atores econômicos mundiais mesmo da maioria dos Estados, como o brasileiro que, nesta questão, é administrado por analfabetos ecológicos.

Poucos são os que colocam a questão axial: afinal se trata de salvar o sistema ou resolver os problemas da humanidade? Esta é constituída em grande parte por sobreviventes de uma tribulação que não conhece pausa nem fim, provocada exatamente por um sistema econômico e por políticas que beneficiam apenas 20% da humanidade, deixando os demais 80% a comer migualhas ou entregues à sua própria sorte. Curiosamente, as vitimas que são a maioria sequer estão presentes ou representadas nos foros em que se discute o caos econômico atual. E pour cause, para o mercado são tidos como zeros econômicos, pois o que produzem e o que consomem é irrelevante para contabilidade geral do sistema.

A crise atual constitui uma oportunidade única de a humanidade parar, pensar, ver onde se cometeram erros, como evitá-los e que rumos novos devemos conjuntamente construir para sair da crise, preservar a natureza e projetar um horizonte de esperança, promissor para toda a comunidade de vida, incluídas as pessoas humanas. Trata-se sem mais nem menos de articular um novo padrão de produção e de consumo com uma repartição mais equânime dos benefícios naturais e tecnológicos, respeitando a capacidade de suporte de cada ecosistema, do conjunto do sistema-Terra e vivendo em harmonia com a natureza.

Milkahil Gorbachev, presidente da Cruz Verde Internacional e um dos principais animadores da Carta da Terra, grupo o qual pertenço, advertiu recentemente: Precisamos de um novo paradigma de civilização porque o atual chegou ao seu fim e exauriu suas possibilidades. Temos que chegar a um consenso sobre novos valores. Em 30 ou 40 anos a Terra poderá existir sem nós.

A busca de um novo paradigma civilizatório é condição de nossa sobrevivência como espécie. Assim como está não podemos continuar. Na última página de seu livro A era dos extremos diz enfaticamente Eric Hobsbawm: Nosso mundo corre o risco de explosão e de implosão. Tem de mudar. E o preço do fracasso, ou seja, a alternativa para a mudança da sociedade é a escuridão.

Importa entender que estamos enredados em quatro grandes crises: duas conjunturais – a econômica e a alimentar – e duas estruturais – a energética e a climática. Todas elas estão interligadas e a solução deve ser includente. Não dá para se ater apenas à questão econômica, como é predominante nos dabates atuais. Deve-se começar pelas crises estruturais pois que se não forem bem encaminhadas, tornarão insustentáveis todas as demais.

As crises estruturais, portanto, são as que mais atenção merecem. A crise energética revela que a matriz baseada na energia fóssil que movimenta 80% da máquina produtiva mundial tem dias contados. Ou inventamos energias alternativas ou entraremos em poucos anos num incomensurável colapso.

A crise climática possui traços de tragédia. Não estamos indo ao encontro dela. Já estamos dentro dela. A Terra já começou a se aquecer. A roda começou a girar e nao há mais como pará-la, apenas diminuir sua velocidade ao minimizar seus efeitos catastróficos e ao adaptar-se a ela. Bilhões e bilhões de dólares devem ser investidos anualmente para estabilzar o clima entorno de 2 a 3 graus Celsius já que seu aquecimento poderá ficar entre 1,6 a 6 graus, o que poderia configurar uma devastação gigantesca da biodiversidade e o holocausto de milhões de seres humanos.

De todas as formas, mesmo mitigado, este aquecimento vai produzir transtornos significativos no equilíbrio climático da Terra e provocar nos próximos anos cerca de 150-200 milhões de refugiados climáticos segundo dados fornecidos pelo atual Presidente da Assembléia Geral da ONU, Miguel d'Escoto, em seu discurso inaugural em meados de outubro de 2008. E estes dificilmente aceitarão o veredito de morte sobre suas vidas. Romperão fronteiras nacionais, desestabilizando politicamente muitas nações.

Estas duas crises estruturais vão inviabilizar o projeto do capital. Ele partia do falso pressuposto de que a Terra é uma espécie de baú do qual podemos tirar recursos indefinidamente. Hoje ficou claro que a Terra é um planeta pequeno, velho e limitado que não suporta um projeto de exploração ilimitada..

Em 1961 precisávamos de metade da Terra para atender as demandas humanas. Em 1981 empatávamos: precisávamos de um Terra inteira. Em 1995 já ultrapassamos em 10% de sua capacidade de regeneração, mas era ainda suportável. Em 2008 passamos de 40% e a Terra está dando sinais inequívocos de que já não agüenta mais. Se mantivermos o crescimento do PIB mundial entre 2-3% ao ano, em 2050 vamos precisar de duas Terras, o que é impossível. Mas não chegaremos lá. Resta ainda lembrar que entre 1900 quando a humanidade tinha 1,6 bilhões de habitantes e 2008 com 6,7 bilhões, o consumo aumentou 16 vezes. Se os paises ricos quissessem generalizar para toda a humanidade o seu bem-estar - cálculos já foram feitos - iríamos precisar de duas Terras iguais a nossa.

A crise de 1929 dava por descontada a sustentabilidade da Terra. A nossa não pode mais contar com este fato e com a abundancia dos recursos naturais. Nenhuma solução meramente econômica da crise pode suprir este déficit da Terra. Não considerar este dado torna a análise manca naquilo que é a determinação fundamental e a nova centralidade.

Tudo isso nos convence de que a crise do capital não é crise cíclica. É crise terminal. Em 300 anos de hegemonia praticamente mundial, esse modo de produção com sua expressão política, o liberalismo, destruiu com sua voracidade desenfreada, as bases que o sustentam: a força de trabalho, substituindo-a pela máquina e a natureza devastando-a a ponto de ela não conseguir, sozinha, se auto-regenerar. Por mais estragemas que seus ideólogos vindos da tradição marxiana, keneysiana ou outras tentem inventar saídas para este corpo moribundo, elas não seráo capazes de reanimáa-lo. Suas dores não são de parto de um novo ser mas dores de um moribundo. Ele não morrerá nem hoje nem amanhã. Possui capacidade de prolongar sua agonia mas esgotou sua virtualidadae de nos oferecer um futuro dicernível. Quem o está matando não somos nós, já que não nos cabe matá-lo mas superá-lo, na boa tradição marxiana bem lembrada por Chico Oliveria em sua lúcida entrevista, mas a própria natureza e a Terra.

Repetimos: os limites do capitalismo são os limites da Terra. Já encostamos nestes limites tanto da Terra quanto do capitalismo. A continuar seremos destruídos por Gaia pois ela, no processo evolucionário, sempre elimina aquelas espécies que de forma persistente e continuada ameaçam a todas as demais. Nós, homo sapiens e demens, nos fizemos, na dura expressão do grande biólogo E. Wilson, o Satã da Terra, quando nossa vocação era o de sermos seu cuidador, guardião e anjo bom.

Para onde iremos? Nem o Papa nem o Dalai Lama, nem Barack Obama nem muito menos os economistas nos poderão apontar uma solução. Mas pelo menos podemos indicar uma direção. Se esta estiver certa, o caminho poderá fazer curvas, subir e descer e até conhecer atalhos, esta direção nos levará a uma terra na qual os seres humanos podem ainda viver humananente e tratar com cuidado, com compaixão e com amor a Terra, Pacha Mama, Nana e nossa Grande Mãe.

Esta direção, como tantos outros já o assinalaram, se assenta nestes cinco eixos: (1) um uso sustentável, responsável e solidário dos limitados recursos e serviços da natureza; (2) o valor de uso dos bens deve ter prioridade sobre seu valor de troca; (3) um controle democrático deve ser construído nas relações sociais, especialmente sobre os mercados e os capitais especulativos; (4) o ethos mínimo mundial deve nascer do intercâmbio multicultural, dando ênfase à ética do cuidado, da compaixão, da cooperação e da responsabilidade universal; (5) a espiritualidade, como expressão da singularidade humana e não como monopólio das religiões, deve ser incentivada como uma espécie de aura benfazeja que acompanha a trajetória humana, pois ancora o ser humano e a história numa dimensão para além do espaço e do tempo, conferindo sentido à nossa curta passagem por este pequeno planeta.

Devemos crer, como nos ensinam os cosmólogos contemporâneos, nas virtualidades escondidas naquela Energia de fundo da qual tudo provém, que sustenta o universo, que atua por detrás de cada ser e que subjaz a todos os eventos históricos e que permite emergências surpreendentes. É do caos que nasce a nova ordem. Devemos fazer de tudo para que o atual caos não seja destrutivo mas criativo. Então sobrevivemos com o mesmo destino da Terra, a única casa comum que temos para morar.

* Leonardo Boff é teólogo, escritor, professor emérito de ética da UERJ e membro da Comissão da Carta da Terra.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Estudo prevê efeito devastador de aquecimento sobre a agricultura – EFE

O rápido aumento das temperaturas no mundo todo terá, provavelmente, um grave efeito sobre as colheitas nas zonas tropicais e subtropicais no fim deste século, prevê um estudo publicado hoje pela revista "Science".

Se não houver uma adaptação, metade do mundo enfrentará uma grande escassez de alimentos, advertiu o estudo.

A população dessas regiões é uma das mais pobres, e com maior crescimento demográfico.

Calcula-se que cerca de 3 bilhões de pessoas vivam nessa área --que vai do sul dos Estados Unidos ao norte da Argentina e o sul do Brasil; do norte da Índia e o sul da China ao sul da Austrália e toda África.

"As pressões do aumento de temperaturas sobre a produção mundial de alimentos serão enormes. Isso sem levar em conta o abastecimento de água", assinalou David Battisti, professor de Ciências Atmosféricas da Universidade de Washington.

Segundo Battisti, serão necessárias muitas décadas para se desenvolver variedades de colheitas que suportem melhor os aumentos de temperatura.

Battisti e Rosamond Naylor, diretor do Programa de Segurança Alimentaria da Universidade de Stanford (Califórnia), tiraram esta previsão de 23 modelos climáticos.

Destes modelos, estabeleceram a existência de mais de 90% de probabilidade de que, até 2100, as temperaturas nos trópicos e subtrópicos serão as mais altas registradas na história.

Os cientistas determinaram também os períodos históricos de maior insegurança alimentar e estabeleceram que é provável que esses períodos se tornem mais frequentes.

Entre os episódios estudados, estão um na França, em 2003, e na Ucrânia, em 1972.

Na então república soviética, uma onda de calor sem precedentes arrasou as colheitas de trigo e causou uma alteração do mercado mundial desse grão que durou dois anos.

"Quando olhamos esses exemplos históricos vimos que sempre houve formas de resolver o problema. Sempre havia um lugar onde encontrar o alimento", disse Naylor.

"No entanto, no futuro, não haverá nenhum lugar onde possamos achar esses alimentos, a menos que reconsideremos as fontes de provisão", previu.

Além disso, os problemas do clima não se limitarão às zonas tropicais. Como exemplo, os cientistas citam, além do caso ucraniano, as temperaturas recorde registradas na Europa em 2003, e que causaram a morte de cerca de 52 mil pessoas.

Segundo eles indicam, as temperaturas que prevaleceram nesse verão de 2003 na França serão normais até 2100, e reduzirão a provisão de alimentos primários como milho e trigo entre 20% e 40%.

As maiores temperaturas, segundo eles, também alterarão de forma radical a umidade do solo --o que causará uma maior redução das colheitas.

Caixa só financiará empreendimentos usuários de madeira legal – MMA

Entrou em vigor no último dia 1º de janeiro de 2009, o Acordo de Cooperação Técnica para Ação Madeira Legal firmado entre o Ministério do Meio Ambiente, o Ibama e a Caixa Econômica Federal para garantir o uso de madeira nativa de origem legal nos empreendimentos financiados pelo banco.

De acordo com o Coordenador Geral de Gestão dos Recursos Florestais do Ibama, José Humberto Chaves, o acordo de cooperação visa coibir o uso de madeira de origem ilegal nas obras e empreendimentos financiados pela Caixa, definir medidas para comprovar a origem legal das madeiras utilizadas nesses empreendimentos, implantar ações e procedimentos visando garantir a origem legal das madeiras utilizadas, criar uma lista das construtoras inadimplentes ou que descumprirem as regras definidas para a comprovação da origem legal da madeira nativa utilizada na construção e desenvolver ações educativas para o uso de madeira legal.

Ao Ibama caberá, dentre outros, disponibilizar acesso e treinamento ao Sistema DOF - módulo de consulta - aos empregados da Caixa autorizados, realizar a autuação das empresas que não apresentarem os documentos de comprovação da origem legal das madeiras à Caixa e de divulgar a ação junto ao setor de construção civil.

É importante que as construtoras e demais entidades organizadoras de empreendimentos habitacionais procurem a Unidade do Ibama mais próxima em caso de dúvidas para adquirir madeira de origem legal. É preciso salientar sobre a necessidade das construtoras estarem inscritas e regulares no Cadastro Técnico Federal para poderem movimentar madeiras no Sistema DOF ou no Sistema Eletrônico Estadual integrado.

A partir de janeiro será exigida a apresentação do Documento de Origem Florestal DOF junto à Caixa pelas construtoras e entidades organizadoras e os casos de inadimplência serão encaminhados para averiguação pelo Ibama, afirma Chaves. Maiores informações sobre como obter o DOF podem ser encontradas na página do Ibama na Internet.

Eficiência energética abre negócios para bancos – Ecoeficiência

Por: Victorio Mattarozzi e Cássio Trunkl
Anos atrás, uma empresa que precisasse de crédito, por exemplo, para modernizar equipamentos e produzir com menor impacto ambiental, teria de enfrentar condições iguais às impostas para concessão de financiamentos com qualquer outra finalidade. Hoje essa situação está mudando. Algumas instituições que já aderiram à perspectiva da sustentabilidade dispõem de produtos específicos para atender a esse tipo de necessidade e a outras ligadas a interesses socioambientais.

Ao mesmo tempo em que minimiza os riscos de crédito e de reputação das instituições financeiras, a opção pela sustentabilidade abre caminho para a criação de enorme gama de produtos e serviços compatíveis com essa perspectiva. A experiência brasileira no campo dos produtos financeiros com foco socioambiental é bem menos abrangente que a verificada nos países desenvolvidos, especialmente os europeus. Já existem, entretanto, alguns produtos desse tipo disponíveis em instituições financeiras nacionais. Especificamente para projetos de eficiência energética podemos destacar a linha de financiamento Proesco do BNDES destinada a empresas de serviços de conservação de energia (Escos) e usuários finais.

Por meio dessa linha são financiados projetos que comprovadamente contribuem para a economia de energia pela adoção de tecnologia ou equipamentos mais eficientes. O foco está em áreas como iluminação, motores, otimização de processos, refrigeração, automação, gerenciamento energético. Segundo o BNDES, essa linha de crédito veio para eliminar o principal obstáculo ao desenvolvimento do mercado de eficiência energética, gerando novas oportunidades de negócios para concessionárias, fabricantes de equipamentos, empresas usuárias de energia e, principalmente, para as Escos. Até esse momento, os bancos repassadores dos recursos do Proesco são Banco do Brasil, Itaú, Bradesco e BDMG. Além dessa linha do BNDES, os bancos privados Bradesco e Real oferecem outras modalidades de financiamento para aquisição de equipamentos e desenvolvimento de projetos de eficiência energética.

Entre os produtos disponibilizados por instituições financeiras internacionais, lembramos o Rabo Climate Mortgage, do banco holandês Rabobank. Trata-se de hipoteca pela qual pessoas físicas podem obter empréstimos a juros mais baixos para construir ou reformar casas de acordo com padrões sustentáveis, utilizando recursos como isolamento térmico, energia solar e outros análogos.

Outro exemplo de produto inovador na direção da eficiência energética é o do banco australiano Westpac, que oferece o Green Credit Card. Esse cartão permite aos seus usuários trocar os pontos acumulados por produtos destinados à economia de energia. Valem desde itens como lâmpadas e chuveiros de baixo consumo até a compensação da emissão de gases do efeito estufa, de modo a tornar os clientes “neutros em carbono”.

Como se vê, o campo socioambiental representa um espaço permanentemente aberto para a criação de novos produtos de interesse amplo, aplicáveis às necessidades das empresas em geral ou de setores em particular – já que muitas instituições financeiras concentram negócios em determinados segmentos de atividades sobre os quais acumulam experiência e conhecimentos. Como as exigências acerca das precauções socioambientais aumentam continuamente, e são acompanhadas por avanços igualmente constantes dos conceitos e das técnicas para colocá-las em prática, não resta dúvida de que a sustentabilidade abre um caminho praticamente ilimitado para a criação de produtos financeiros consoantes com seus objetivos.