quarta-feira, 16 de junho de 2010

Casa Sustentável, é viável?


Arquiteta Juliana Boer dá dicas para casa sustentável
A benefícios para o planeta somam-se os ganhos no bolso do consumidor

Transforme sua casa em um espaço ecologicamente correto. Algumas mudanças nem implicam em obras, basta economizar principalmente nas contas de água e de energia. As dicas são de Juliana Boer, 34 anos, responsável, junto com sua sócia Maira del Nero, pelo escritório de arquitetura sustentável Cria Arquitetura. Confira a entrevista:

- O que é arquitetura sustentável?

A arquitetura sustentável é aquela que leva em consideração os impactos ambientais gerados por uma obra durante a época de construção, durante o uso da edificação e, inclusive, considerando depois a possibilidade de desmontá-lo.

- Quais os grandes benefícios de uma construção dentro dos padrões de sustentabilidade?

Uma construção mais sustentável e liberal vai ter parâmetros mais eficientes. Logo, os custos de operação são mais baixos. Gasta-se menos energia, menos água e tudo mais. Adicionalmente, você tem ambientes mais saudáveis já que sustentabilidade implica em materiais mais adequados à saúde. Outra questão: há um benefício público já que você aproveita melhor a infra-estrutura oferecida pela cidade.

- Quais as diferenças entre material ecologicamente correta e o convencional?

Para material ecologicamente correto leva-se em conta se a matéria-prima é reciclada, renovável, se o material tem alto consumo de energia ou não na construção. Outras questões são se emite algum poluente e se gera resido ou é biodegradável.

- Há medidas simples que podem ser implementadas em nossas casas sem que seja necessária uma obra?

Há várias que não implicam na construção. São as clássicas economias de água, de energia. Isso já impacta positivamente naquilo de consideramos sustentabilidade da construção. Fora isso, tem as questões bem básicas como utilizar luminárias com lâmpadas mais eficientes, pintar a casa de branco, usar sistemas economizadores de torneira com temporização ou areador. São coisas que não implicam em reforma e são fáceis de fazer.

- Ao elaborar um projeto, o que deve ser levado em conta?

Primeiro minimizar o consumo de energia através de várias maneiras. Entre elas, usar formas alternativas e produtos com gastos mais eficientes. Depois, minimizar igualmente o consumo de água com seu uso racional e procurando fontes alternativas como a chuva. Deve ser levado em conta também as especificações de materiais mais adequados e sustentáveis. Claro, sem esquecer o conforto. Alguns arquitetos usam sistemas passivos. São soluções da arquitetura para demandas específicas sem que aja um equipamento específico. Por exemplo, colocar janelas em determinados locais para melhorar a iluminação ou a demanda de ventilação.

- É mais caro ser eco-sustentável?

As tecnologias utilizadas pela arquitetura sustentável por serem sofisticadas não são mais baratas que as convencionais. Mas, em geral, como há um ganho de eficiência e desempenho, os custos serão menores na operação do edifício. Na verdade, ser mais caro ou ser mais baratos não tem nada a ver com sustentável e sim com o projeto. Por exemplo, no uso de tijolo alternativo, a unidade é mais cara. Mas, como é usado de forma mais inteligente e racional, sem gastos exagerados, no fim, a obra acaba ficando mais em conta do que se fosse usado tijolo tradicional.

- O uso de matéria-prima ecologicamente correta compromete o design?

De forma alguma. É uma discussão que já houve e acho estar superada. Minha sócia foi à feira de Milão, onde havia várias estantes com o melhor do design. Todas super sustentáveis. Design é uma questão de criação, o material é apenas a base. Essa idéia de casa sustentável igual à casa de pescador acabou. Hoje, da junção de borracha, alumínio, milho, vidro e pó de pedra gera-se produtos altamente sustentáveis e high-tech.

- Qual o cômodo da casa mais prejudicial ao meio ambiente? O que pode ser feito para melhorá-lo?

O banheiro é o grande violão por juntar vários outros violões em seu funcionamento. Se você não tem o chuveiro elétrico ou usa com aquecimento solar de maneira errada, você vai deixar horas até a água esquentar. Há também a questão do esgoto não ser necessariamente tratado. A dica é usar equipamentos economizadores no chuveiro e na torneira, além de colocar válvula dupla na bacia sanitária. O esgoto também pode ser tratado e aproveite para reutilizar água de chuva na bacia sanitária.

- O Brasil está pronto para receber esses projetos ou ainda esbarra em problemas de consciência, legislação e matéria-prima?

O consumidor está pronto e aberto, mas temos problemas de legislação e da falta de dados no país. Tudo que é bom as pessoas aprendem a consumir rápido, mas o problema passa por legislações mais lentas que as tecnologias. Às vezes temos conhecimentos, mas as leis antigas inviabilização seu uso.

Fonte: Terra

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